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sexta-feira, 28 de maio de 2010

PARTITURAS EM BRAILLE - APRENDIZAGEM MUSICAL PARA DEFICIENTES VISUAIS


Estudo feito na Unicamp levanta desafios enfrentados por deficientes visuais no ensino e no aprendizado de música.

Interpretar notas musicais grafadas em uma partitura é tarefa banal para um músico. Porém, quando o instrumentista é deficiente visual essa atividade se torna muito mais complicada, sem contar os inúmeros obstáculos enfrentados durante o processo de aprendizagem musical.
Entender como um deficiente visual aprende a ler partituras pelo método Braille e analisar o ensino de música e os recursos disponíveis para essas pessoas foi o tema da tese de doutorado "Do toque ao som: ensino da musicografia Braille como um caminho para a educação musical inclusiva".
O trabalho foi defendido e aprovado na quarta-feira (10/02/2010) por Fabiana Fator Bonilha, no Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com orientação do professor Claudiney Rodrigues Carrasco, do Departamento de Música.
"A motivação da pesquisa surgiu da minha própria experiência", contou Fabiana, que é bacharel em música e deficiente visual desde o nascimento. Ela explica que o trabalho é a ampliação de sua dissertação de mestrado, intitulada "Leitura musical na ponta dos dedos: caminhos e desafios do ensino de musicografia Braille na perspectiva de alunos e professores" e concluída em 2006.
Tanto no mestrado como no doutorado a estudante contou com apoio de bolsas da Fapesp. Durante o mestrado ela entrevistou estudantes de música com deficiência visual e coletou suas percepções sobre o processo de aprendizagem.
Entre as conclusões, Fabiana levantou que há poucos espaços de formação que atendem às necessidades dos deficientes e a demanda por esses cursos é grande. Essas dificuldades a fizeram voltar para o problema da inclusão musical dos deficientes visuais durante o doutorado.
A fim de compor a tese, a estudante analisou todo o processo a ser percorrido por um deficiente visual que quer ter uma educação formal em música, a começar pelo desafio de encontrar ou transcrever partituras para o código Braille.
Para que a transcrição seja bem sucedida, é fundamental a figura do transcritor. "Ele tem que ser um especialista tanto em música como em Braille", apontou. Essa atividade pode ser desempenhada tanto por pessoas que enxergam como por deficientes visuais, de acordo com Fabiana.
Uma das maiores contribuições do estudo foi a formação de um acervo de cerca de 50 partituras vertidas para o sistema Braille durante a pesquisa. Esse material já está disponível no Laboratório de Acessibilidade da Biblioteca Central César Lattes da Unicamp.
"A maioria dessas composições é brasileira. Isso é importante porque podemos fazer um intercâmbio trocando partituras em Braille com instituições de outros países", disse.

CAPACIDADE DE ABSTRAÇÃO

A partitura transcrita, no entanto, é apenas o início do processo para o estudante com deficiência visual. Fabiana explica que a musicografia em Braille exige muito mais do estudante.
Os símbolos musicais impressos em tinta são convencionalmente grafados em cinco linhas, chamadas de pentagrama. Uma composição para piano, por exemplo, utiliza ao mesmo tempo dois pentagramas, um para cada mão, e um acima do outro para indicar a simultaneidade de algumas notas.
Uma partitura em Braille, por sua vez, contém apenas caracteres resultantes das combinações entre seis pontos salientes. O músico deve interpretar as notas ao toque dos dedos e ler cada linha separadamente e assim inferir a simultaneidade das mãos do piano, por exemplo.
É preciso um grau de abstração muito maior e uma sólida formaçãoo musical", disse Fabiana. Isso além de uma boa memória, uma vez que o instrumentista deve decorar toda a partitura antes de executá-la".
A pesquisa obteve um levantamento qualitativo baseando-se em três experiências: o aprendizado de musicografia Braille de dois deficientes visuais e a capacitação de um professor de música para ensinar um aluno com deficiência visual.
Como pré-requisito, Fabiana selecionou casos em que os envolvidos tinham conhecimento musical prévio e que o desafio, portanto, seria introduzí-los ao sistema de notação musical em Braille.
Os alunos escolhidos eram aprendizes de instrumentos distintos: violão e teclado, o que exigiu adaptações específicas, pois as partituras desses instrumentos são diferentes.

DEFICIÊNCIA CONGÊNITA OU ADQUIRIDA

Fabiana conseguiu traçar algumas diferenças no aprendizado entre deficientes visuais congênitos (de nascença) e os que adquiriram a deficiência ao longo da vida.


REYNOL, Fábio. Partituras em Braille. Agência Fapesp - 11/02/2010. Disponível em http://www.agencia.fapesp.br/

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